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Questões da Comunicação e das Relações Interpessoais

Quantas vezes nos queixamos de que entendemos o contrário daquilo que alguém nos pretendia comunicar ou que as palavras que alguém utilizou estavam fora do contexto? A significação é, pois, um problema central da comunicação, na medida em que condiciona a sua eficácia: por um lado, porque a comunicação só será eficaz se a mensagem que o emissor tinha intenção de transmitir for interpretada da mesma forma pelo recetor; e, por outro, porque o significado que é atribuído à mensagem tem expressão na forma como as pessoas reagem à mensagem que é emitida. 

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Questões da Comunicação e das Relações Interpessoais

No mundo contemporâneo, as questões da comunicação e das relações interpessoais são da maior importância. Em média, o ser humano passa ¾ do seu tempo a comunicar com outras pessoas, podendo afirmar-se que a comunicação humana é uma vertente fundamental no processo das relações interpessoais. 

Ao adquirir as regras e normas que regem uma determinada sociedade, o ser humano vai desenvolvendo as suas capacidades de comunicação. Enquanto ser cultural, cada indivíduo apreende da sociedade valores que se transmitem de geração em geração, para melhor se relacionar com os outros. 

A palavra “comunicar” provém do latim Comunicare e significa “pôr em comum”. Significa, assim, transmitir uma mensagem entre pessoas que conhecem o significado daquilo que se diz e faz. Significa trocar e partilhar ideias, sentimentos, hábitos, experiências e valores através de sinais verbais, sinais escritos e sinais não verbais.

Por outro lado, a comunicação é o mecanismo através do qual as relações humanas existem e se desenvolvem. A comunicação surgiu como uma necessidade social e, simultaneamente, como uma exigência pessoal para estabelecer a relação com os outros.  Comunicar com o outro implica a tomada em conta da sua identidade na interação e as suas reações à alteridade. Os códigos culturais e linguísticos, assim como os rituais de interação, diferem segundo as culturas e sub culturas e, deste modo, o desconhecimento ou não respeito por estas diferenças nos diversos contextos gera problemas comunicacionais e pode reforçar os estereótipos e os preconceitos. 

Numa relação comunicativa não se produzem nem se interpretam sinais isoladamente, mas sim conjuntos de sinais que se integram num contexto. Quantas vezes nos queixamos de que entendemos o contrário daquilo que alguém nos pretendia comunicar ou que as palavras que alguém utilizou estavam fora do contexto? A significação é, pois, um problema central da comunicação, na medida em que condiciona a sua eficácia: por um lado, porque a comunicação só será eficaz se a mensagem que o emissor tinha intenção de transmitir for interpretada da mesma forma pelo recetor; e, por outro, porque o significado que é atribuído à mensagem tem expressão na forma como as pessoas reagem à mensagem que é emitida. É fundamental que, no processo de comunicação, tenhamos presente as possíveis significações que os outros possam atribuir ao nosso comportamento. Ter consciência deste fenómeno permite uma maior abertura e disponibilidade para compreender as ideias e pontos de vista dos outros e, ao mesmo tempo, para reformularmos as nossas ideias e representações.

Cada pessoa, que passamos a considerar interlocutor, troca informações baseadas no seu repertório cultural, na sua formação educacional, vivências, emoções, toda a “bagagem” que traz consigo. Cada qual tem o seu repertório cultural exclusivo e, portanto, transmitirá a informação segundo o seu conjunto de particularidades e o recetor agirá da mesma maneira, segundo o seu próprio filtro cultural.

A fim de minimizar estes choques culturais, convencionaram-se ferramentas e meios que passam a ser usados pelas pessoas na comunicação interpessoal (por exemplo a fala, a mímica, os computadores, a escrita, a língua, os telefones e a rádio). A escolha dos meios de comunicação e a utilização das ferramentas disponíveis deve ser observada de modo a facilitar todo o processo com o menor índice de ruídos possível.

Por outro lado, existem atitudes que poderão ser facilitadoras da comunicação, nomeadamente:

a) Autoconhecimento – A imagem que construímos de nós próprios determina, em grande medida, a forma como comunicamos: a iniciativa para comunicar, a clareza na expressão, o risco de abandonar determinadas questões, a compreensão de outros pontos de vista, a crítica e a aceitação da crítica, a discordância com os grupos, a apresentação de dúvidas e a criatividade. Esta imagem que formamos de nós próprios é constantemente criada pelo feedback que nos chega a partir das reações dos outros e do meio aos nossos comportamentos comunicacionais, contribuindo para o esclarecimento, melhoria e crescimento contínuos.

b) Autoestima – Para termos credibilidade diante de um interlocutor, é indispensável termos credibilidade perante nós próprios. Só há troca (e comunicação é troca) se admitimos que podemos contribuir com alguma coisa. Podemos afirmar, pois, que há uma correlação elevada entre estima por si próprio (o grau em que gostamos de nós mesmos) e o estilo de comunicação. As pessoas que possuem um bom nível de autoestima dão normalmente provas de um à-vontade maior nas relações, sabendo ter iniciativa, ser criativas, exprimir com clareza as suas críticas fundamentadas e procurar relações produtivas para todos os intervenientes, não se sentindo postas em causa cada vez que se discorde delas, ou que um seu ponto de vista não suscite a ausência do grupo. 

c) Heteroconhecimento – A eficácia do discurso exige o conhecimento do “outro”, o nosso companheiro de interação. Mas o “outro” revela-se apenas se nos envolvermos e escutarmos ativamente. Se assim for, receberemos feedback construtivo do “outro” e fomentaremos a aproximação de quadros de referência e criação e ampliação de um “repertório” comum.

d) Contexto – É pela abordagem do contexto particular – e não a utilização de “Receitas” aplicáveis a todas as circunstâncias – que é possível conseguir resultados satisfatórios para todos, uma vez que essas informações integradas permitem um constante reajustamento da comunicação para que produza os efeitos desejados. 

 

e) Empatia – Por vezes, no nosso dia-a-dia, utilizamos a palavra empatia como um sinónimo de simpatia (ex: “Eu empatizei logo com ele”, isto é, “Eu simpatizei logo com ele”). No entanto, a empatia não se relaciona com a simpatia; podemos empatizar com alguém com quem não simpatizamos. Aliás, este é um dos motivos pelos quais a empatia é tão importante nas relações interpessoais. A empatia é a capacidade para se colocar na “pele” da outra pessoa e identificar e compreender os seus sentimentos. A perspetiva da empatia deriva de um princípio fundamental nas relações interpessoais: “Todas as pessoas têm motivos para agir”. Se reconhecemos sempre motivos para nós termos agido de uma dada forma, os outros também devem beneficiar da mesma premissa, por muito que o seu comportamento nos pareça criticável ou sem sentido. Neste sentido, a empatia é o oposto do juízo de valor: em vez de se julgar o comportamento de alguém com base num traço negativo de personalidade, procura-se compreender o comportamento da pessoa. A empatia é um “ingrediente” fundamental para estabelecermos relações de proximidade e intimidade com alguém, apresentando como principal vantagem o facto de a comunicação se tornar mais clara, pois diminuem as interpretações incorretas dos comportamentos e os conflitos são menos frequentes e melhor resolvidos. A comunicação deverá ser empática, pois só desta forma se criam e expandem “territórios de comunicação” comuns. Não obstante, a atitude empática não significa a perda do espírito crítico, nem implica que se tenha que pensar, sentir ou agir como o outro. 

Como nota final relembrar que no ato de comunicar com os outros devemos sempre recordar que 

             Não há absolutização da ignorância, nem absolutização do saber. Ninguém sabe tudo, assim como ninguém ignora tudo. O saber começa com a consciência do saber pouco. É sabendo que sabe pouco que uma pessoa se prepara para saber mais. O homem, como um ser histórico, inserido num permanente movimento de procura, faz e refaz constantemente o seu saber.

 (Freire, 1975)

AUTOR(A)

Patrícia Ribeiro é licenciada em Psicologia, com Mestrado em Educação e Formação de Adultos e  Doutoramento em Ciências da Educação pela Universidade do Porto. É, também, pós-graduada em Mediação de Conflitos em Contexto Escolar pela Universidade Lusófona do Porto, na qual é colaboradora do Instituto de Mediação. Psicóloga Escolar, Mediadora Escolar e Formadora em diversas áreas.

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